Cicla das 5 discute temas sobre emprego e mercado informal de trabalho
01/11/2019
Aconteceu na última quarta-feira, dia 30, a reunião conhecida como Cicla das 5, evento que pertence à programação do VIII Seminário FESPSP 2019: Juventude, Trabalho e Profissão, realizado de 28 a 31 de outubro.
O evento tratou do tema Manda jobs - Reforma Trabalhista e a geração pejotinha. Participaram, Marilane Teixeira, professora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Cesit-Unicamp), Luana Alves, representando Monica da Bancada Ativista do PSOL, Monique Lemos, do coletivo Batekoo, manifesto do movimento negro e LGBTQIA+ no Brasil.
“Os resultados prometidos pela reforma Trabalhista foram um fracasso. O crescimento do trabalho intermitente é de 0,3%. O trabalho parcial é ainda menor. Do ponto de vista do mercado de trabalho, ela não gerou empregos”, explicou Marilane. “Acreditam que o mercado resolve tudo. Para nós, o Estado é responsável por promover desenvolvimento econômico. O setor privado contrata um pejota para substituir um empregado com direitos, não para ampliar o número de empregos”, acrescentou a a economista.
Para Marilane, do ponto de vista do emprego, a Reforma Trabalhista só gerou trabalhos precarizado, principalmente para mulheres negras, as tais MEIs. “Essa figura do trabalho por conta própria que cresce enormemente é ilegal e fraudulenta”, defendeu ela. “Outra falácia é dizer que o jovem não quer ter vínculo, relação de hierarquia e quer ser microempreendedor. Não é a realidade do mundo real. É que ele foi forçado a assumir essa condição.”
A economista fez uma análise destacando a profunda mudança de valores pela qual passa a sociedade, que está modificando a conexão com o próximo e o conceito de solidariedade. Tudo isso dentro de um contexto dentro do mundo do trabalho, que inclui a fragmentação, criação de MEIs, esfacelamento das relações do ambiente de trabalho, fragilização das entidades sindicais e da própria justiça do trabalho.
“Antes, você estava submetido à chefia, se unia e reagia, fazia demandas. Hoje, parte do trabalho é um meio para você se realizar no mercado de consumo. Valores passam a ser uma dimensão individual. É uma exacerbação do individual. E a gente vê um crescimento do suicídio, principalmente entre os jovens. Tudo isso está correlacionado”, sintetizou.
Luana Alves falou sobre a reforma da previdência. Para ela, quando se fala dos movimentos capitalistas brasileiros, estamos falando de capitalismo “racializado” do que se formou a partir da escravidão negra. “Por que está sendo tão rápida a deterioração do sistema de seguridade social? Os donos do poder mandando em quem não é trabalhador, mas escravo”, acredita Alves. Para ela, o atual déficit da Previdência é resultado da falta de aporte do Estado, que está sendo chamado a colaborar em tempos de crise econômica, o que não era necessário quando havia desenvolvimento, e os ativos e o setor privado davam conta. “A intenção das reformas trabalhistas e da previdência é dificultar a aposentadora e precarizar o emprego”, ressaltou Luana.
Monique Lemos relatou a experiência de gestão do Batekoo. Liderado por jovens empreendedores que pregam novos modelos para uma inserção no mundo do trabalho de uma forma mais criativa, quando o tema acontece dentro de casa, a realidade é outra. Ela compartilhou as dificuldades e o aprendizado de uma pequena empresa que se cobra pelo modelo de uma grande empresa.
“Os donos da empresa são muito jovens e apesar de terem toda a liberdade moldam o corpo com se fosse uma grande empresa. Trazem a cobrança de estarem em lugar de diretoria, chefes e gerentes. Sem ter a experiência, sem ter a segurança. É muito surreal. Serem PJ e usarem esse método falido. Eles têm esse olhar crítico, mas ainda assim usam esse método. Poderiam assumir que podem ser revolucionários”, analisou Monique.
Lia Carneiro - Agência Fato Relevante
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