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Diversidade corporativa é tema do último encontro da Cicla em 2019

Participantes relataram as próprias experiências no mercado de trabalho

01/11/2019

Oportunidades de trabalho formais estão dando lugar para o movimento conhecido como uberização do trabalho, onde o trabalhador possui maior flexibilidade em troca de direitos e garantias. Para as pessoas que não se encaixam nos padrões sociais heteronormativos as oportunidades formais já eram escassas, o mesmo se aplica para os deficientes e para os negros. O último encontro da Cicla das 5 no seminário da FESPSP tratou sobre diversidade corporativa, o que já foi conquistado e o que ainda falta conquistar. A mesa contou com a presença de Igor, Jef, Ivone e Érica, mediação da Revolta da Lâmpada.

Parte da militância autista, Igor só descobriu sua condição quando já estava no mercado de trabalho, ao perceber que não conseguia fazer coisas que precisava fazer. “O desespero durou enquanto eu não era diagnosticado, pensei até em suicídio”, conta. Hoje, ele defende que existe uma neurofobia, pois sabe que todos ao redor dele já haviam identificado sua condição, mas ninguém reconhecia. “A proposta da militância é sempre deixar o autista falar. Na sociedade hoje quem fala é o médico ou as mães de casos graves. Não falamos com o autista. O evento aqui é importante justamente porque eu posso falar. A militância só quer fazer ouvir”.

A importância da inclusão também foi destacada por Igor: “olhem par adentro das empresas de vocês e passem a olhar para a diversidade como um todo, inclusive a PCD”.

Jef trabalha com publicidade. Quando descobriu ser soropositivo não revelou para todos ao seu redor, muito menos em seu trabalho, até participar de uma campanha televisiva em horário nobre da ONG Incentivo à vida, onde declarou publicamente sua condição. “Foi libertador revelar para todo mundo, cinco anos depois do diagnóstico”, conta.

Começou então a propor trabalhos de diversidade no mundo corporativo, a partir da empresa onde atuava. No começo, declara ter tido total apoio, até começarem os questionamentos. “No meio publicitário ainda há muito para conquistar, pois ainda surgem barreiras. As mudanças vem com muita luta mas sempre meu emprego fica em risco. Ficaria mais fácil se tivéssemos um apoio real”, declara.

Blogueira do “De Rodas”, Ivone teve poliomielite. “Na minha época não existia lei de cotas. A maioria dos PCDs começavam no trabalho informal, foi assim comigo também. Só fui ter conhecimento do mercado formal quando comprei um computador em 2006 para aprender a digitar”. Conseguiu um emprego em telemarketing e se esforçou para pagar a faculdade de Contabilidade. Entrando no mercado, descobriu sobre as leis trabalhistas e entrou na militância PCD. “O mercado dá prioridade para quem tem deficiência leve ou moderada. A sociedade nos infantiliza. Não nos esqueçamos que pai e mãe não são eternos, nós também precisamos adquirir autonomia”, discursa.

Érica trabalha no gabinete de uma deputada estadual na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). “Eu me formei em ambientes que eram sempre os melhores a se estar, mas o desconforto é que havia poucas pessoas negras nesses espaços. Precisei conviver muito com a branquitude para ter estes acessos”, conta, destacando que no gabinete em que trabalha na Alesp é a primeira vez em que olha para os lados e só vê corpos negros.

“Na Alesp sofremos muitos ataques por representarmos uma mulher negra e nordestina. Tentam desqualificar ela o tempo inteiro. Existe um assédio nos olhares, questionamentos de que aquele não é nosso lugar. São olhares que infantilizam nossa inocência e nossa capacidade intelectual de fazer política. Eles esperavam que não conseguíssemos, mas foi justamente o oposto do que aconteceu. Tenho orgulho do meu trabalho e de trabalhar com tanta gente capaz ao meu lado, eles estão lá por suas capacidades”, destaca.

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