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Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência: “Pesquise como uma garota”

Em todo o mundo, somente 28% dos pesquisadores e cientistas são mulheres

11/02/2020

Por Eduarda Endler (Cartola Conteúdo)

Hoje, 11 de fevereiro, é o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU). No mundo, somente 28% dos pesquisadores e cientistas são mulheres, conforme a Unesco. A professora de Metodologia em Ciência Política da FESPSP, Joyce Hellen Luz, explica que é essencial ter mulheres ocupando diversas áreas, inclusive a da ciência, para quebrar paradigmas e preconceitos de que somente homens é que estão ou são aptos a realizar determinadas tarefas.

“Nós começamos a ocupar profissões que não carregam características do cuidado com o lar e que ainda por cima são profissões ‘masculinas’, ou seja, só ocupadas por homens. É difícil ser respeitada? Sim. Ganhamos a mesma credibilidade que um homem ganha quando divulgamos nossas pesquisas? Raramente sim. Mas ainda assim continuo a defender que precisamos ocupar essas profissões”, salienta Joyce.

Ainda conforme a pesquisa da Unesco, as mulheres continuam sub-representadas nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemáticas, no âmbito da graduação e da pesquisa. Segundo a cientista social, através da ciência é possível mudar realidades, diminuir desigualdades e combater doenças. “É importante que essa área seja, portanto, ocupada por mulheres e homens. Primeiro para mostrar que temos tanta capacidade quanto a dos homens e em segundo, para levar nossas experiências e realidades até um universo que também carece de representatividade”, comenta a professora. 

Quanto ao preconceito na área da ciência contra mulheres, Joyce lembra de um episódio que viveu: “Mulheres cientistas ocupam lugares que sempre foram tradicionalmente ocupados por homens. Mulheres não estudavam antigamente. Hoje estudam. Chegam ao doutorado. Mas ainda somos poucas. E sempre existem pessoas para nos falar que nosso lugar não é ali ou para falar que se chegamos até ali foi porque usamos do nosso corpo”.

Ocupar essas posições coloca em evidência uma desigualdade gritante de gênero. Quando alguém se incomoda pela situação, a cientista lembra das mulheres que precisam ter, ainda, a mesma oportunidade que ela teve: “Lembro das mulheres que eu gostaria de ver ao meu lado. Eu quero que seja mais fácil, sem tanto preconceito para elas, estar onde eu estou. Então eu respiro fundo diante dessas situações, abro um sorriso, piso firme e repito para mim mesma: ainda bem que eu, como mulher e cientista política, estou incomodando mesmo. Por que se não fosse para incomodar e mudar essa realidade, eu nem teria enfrentado o que ainda enfrento para estar aqui”.

FESPSP: Mulheres na ciência

A professora da pós-graduação em Ciência Política comenta que, no seu curso, ao longo dos três semestres, os alunos têm ao todo 12 professores. Destes, a metade é mulher. “Não poderia ter um ambiente mais favorável para trabalhar. É muito importante não só falar de igualdade de gênero em diversas áreas, como é importante viver na prática. É importante colocar as mulheres no tal lugar de fala. Então hoje eu me sinto no meu lugar de fala dando aula de metodologia em ciência política para os alunos”.

Na sua aula, Joyce trabalha bastante com dados quantitativos e qualitativos: “Ciência nós produzimos com dados. Ciência é um conhecimento científico. Produção de verdades. E verdades carecem sempre de provas. Logo, dados são sempre necessários na ciência”, explica. 

Dessa forma, através dos dados é possível colocar em evidência a desigualdade de gênero que divide hoje homens e mulheres em tantos assuntos. “Fico feliz em ser uma professora mulher que pode ensinar os alunos a conhecerem e produzirem dados sobre as desigualdades que os separam e os distinguem na nossa sociedade”, salienta a professora. Para as mulheres que querem ser cientistas, Joyce deixa um recado: “Pesquisem como uma garota!”.


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