Artigo Assinado
08/03/2016
Dia internacional da mulher: comemorar ou reivindicar?
A professora Anna Silvia de Rosal e Rosal, docente convidada da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), explica, em seu artigo, que apesar das conquistas há muito para as mulheres percorrerem rumo a igualdade.
É preciso dar um basta à violência doméstica contra a mulher
Por Anna Silvia de Rosal e Rosal
O conceito de gênero surgiu com a função de se opor ao determinismo biológico presente nas relações entre o masculino e o feminino e fortalecer, de modo igual, o aspecto relacional das concepções normativas da feminilidade. Gênero é um elemento constitutivo de relações sociais que se baseia nas diferenças percebidas entre os sexos. É o primeiro modo de significar as relações de poder (SCOTT, 1989). A luta feminina pela igualdade de gênero é tão antiga quanto importante. No ano de 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, na Dinamarca, foi instituído o dia 8 de março como a data universal para homenagear as mulheres e fortalecer a luta pela igualdade de gênero. Em 1945 a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional contemplando princípios de igualdade entre homens e mulheres e em 1977, finalmente, a data foi reconhecida oficialmente pela ONU.
De sua instituição, em 1910, até hoje destacamos alguns avanços, como: o fortalecimento das mulheres no mercado de trabalho, o que promoveu a emancipação financeira e a possibilidade de desvincular o sexo com da gravidez, em decorrência do surgimento da pílula anticoncepcional. Essas conquistas abriram novos caminhos a serem trilhados em diversos âmbitos da vida feminina. No Brasil, destaca-se o voto feminino e o direito de ser eleita, alcançados em 1932. Posteriormente, a Lei do Divórcio, instituída em 1977 pelo Senador Nelson Carneiro, deu a mulher a possibilidade de desfazer o casamento fracassado e casar-se novamente.
Apesar de tais vitórias a mulher tem um amplo cenário a desbravar, incluindo a igualdade de salários entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo. Contudo, o mais urgente é o fim da violência doméstica, o que inclui, além das agressões físicas, a violência patrimonial, sexual, moral e psicológica. O Governo brasileiro identificou os 10 tipos mais frequentes: (1) humilhar, xingar e diminuir a autoestima; (2) tirar a liberdade de crença; (3) fazer a mulher achar que está ficando louca; (4) controlar e oprimir; (5) expor a vida íntima; (6) atirar objetos, sacudir e apertar os braços; (7) forçar atos sexuais desconfortáveis; (8) impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obriga-la a abortar; (9) controlar o dinheiro e reter documentos, e; (10) quebrar objetos da mulher. Essa situação ultrajante reduz a mulher a refém do desequilíbrio de homens que entendem ter sua posse. Ao mesmo tempo, o machão sente-se ameaçado pela força feminina, por isso, precisa manter a mulher aprisionada. Cerceia o desejo e as escolhas de sua companheira na tentativa de assegurar a hegemonia masculina.
Como visto, a maior luta a ser travada pela mulher começa dentro de sua própria casa. Enquanto estiver aprisionada a relações entre desiguais, brigar por melhores salários, por exemplo, torna-se secundário. Afinal, a mulher precisa apropriar-se ou apoderar-se de seu desejo, de sua vida para então lançar-se inteira e fortalecida na busca de direitos em outras esferas da sociedade. A luta precisa continuar.

Anna Silvia Rosal de Rosal é pesquisadora e mestre em Psicologia, especialista em Psicoterapia Psicanalítica e professora convidada na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).