Em Mulheres, raça e classe, Angela Davis faz um estudo elaborado sobre as condições da população negra nos Estados Unidos por um viés interseccional, ou seja, analisando como racismo, capitalismo e sexismo estruturam as relações gerando formas combinadas de opressão. Davis inicia o livro com o capítulo “O legado da escravidão: parâmetros para uma nova condição feminina” falando sobre o modo pelo qual a mulher negra escravizada era tratada de modo a ofuscar uma “condição feminina” já que elas eram forçadas a desempenhar o mesmo trabalho dos homens negros escravizados.
É muito importante Davis iniciar sua análise pela escravidão porque a mão de obra escrava representava muito para a economia da época e mostra como o racismo é um elemento estruturante e deve ser tido como fundamental para uma análise profunda de sociedades com herança escravagista. Uma análise econômica deve passar necessariamente por essa questão pelo fato do racismo ser uma de suas bases de sustentação.
Davis é uma grande crítica do sistema judicial e tem realizado discussões acerca do abolicionismo penal justamente por entender sua relação com a escravidão e ser um mecanismo de encarceramento em massa da população negra. Levando em consideração que nos últimos anos aumentou significativamente o número de mulheres negras encarceradas tanto no Brasil como nos EUA, Davis evidencia o fato importante de também se pensar a categoria de gênero nessa equação.
Em “A prisão como fronteira: uma conversa sobre gênero, globalização e punição”, Davis diz “[…] estamos reconceitualizando a relação entre o Complexo Industrial Carcerário e a globalização – desde uma discussão de como a prisão está sendo afetada pela globalização da economia (em que a prisão se encaixa na globalização) até a utilização da prisão como uma instituição histórica contingente que não só prognostica/pressagia a globalização, mas nos permite pensar hoje sobre as intersecções entre punição, gênero e raça, dentro e além das fronteiras dos Estados Unidos”.
Davis enfatiza a importância de se pensar as intersecções das opressões, como a combinação delas colocam grupos em situações de maior vulnerabilidade social e como agem de forma entrecruzada de forma que não é possível hierarquizá-las.
Djamila Ribeiro
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